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domingo, 1 de janeiro de 2017

Sobre mim


NÃO CONFUNDA: A QUE ESTÁ DE ÓCULOS SOU EU.
EU: ELIZAME UMBELINO DE FREITAS

QUER SABER UM POUCO DE MIM?

Nasci em Divisão, uma pequena vila agrícola quase ao sopé da serra Pelada entre os municípios de Belo Jardim e Sanharó, Pernambuco. Meu pai, João Duda (João Ursulino de Freitas), poeta de cordel, dedicava-se também a agricultura de subsistência. Minha mãe doméstica e única costureira da vila e sítios adjacentes; dedicava-se também aos cuidados com o gado e atendimento aos doentes.

Aprendi a ler muito cedo, pois era prazer do João Duda iniciar os filhos na arte da leitura. Gostava de ir ao roçado tocaiar os passarinhos, a fim de evitar que o milho e o feijão fossem arrancados ainda tenros pelas aves em busca de alimento. Na verdade o deleite não era a tocaia, mas sim aproveitar os momentos de ausência do pai para imitar os passarinhos e usufruir do gorjeio da fauna. Era também um jeito de não ficar só porque em poucos minutos toda serra gorjeava comigo.

Na vila, junto com as demais crianças, dispunha de muito espaço e tempo para brincadeiras. Ajudava na cata de lenha e na busca de água para abastecer a casa; tínhamos ocupações definidas, além dos deveres escolares. Não costumava “levar desaforo pra casa”. Apanhando ou batendo sempre resolvia as rinhas com os desafetos. Quando o adversário era mais forte eu praticava o “ponto certo” (corria). A noitinha, sentados na calçada em frente de casa, desfrutávamos das “histórias de trancoso” contadas pelo meu pai ou observávamos as estralas e, sob a orientação dele, tentávamos reconhecer as constelações que ficavam visíveis a olho nu devido a escuridão da noite sem luz elétrica. Tudo isso era uma delícia.

Contava já meus oito anos quando toda família veio morar em Recife. A decisão foi devida ao desejo dos meus pais de que os filhos fossem doutores. E como não dispunham de meios para mantê-los sozinhos na cidade; optaram por morar na cidade grande.

Foi um verdadeiro choque cultural. Passamos a morar numa favela porque as economias adquiridas com a venda dos parcos bens não davam condições para adquirir um imóvel num bairro mais organizado. Além do que necessitávamos de um lastro para começar a nova vida e garantir o sustento da família.

Eu e meus irmãos e irmãs fomos estudar em escolas subsidiadas pela igreja evangélica da qual fazíamos parte. A liberdade, então limitada devido a preocupação de minha mãe de que os filhos adotassem as formas de comportamento das crianças da favela, não compatíveis com os seus princípios, obrigou-me a conviver com espaços precários; ou seja, casa, escola e igreja. Adaptação difícil – acho que não consegui até hoje.

Como a gaiola era obrigatória, optei pela igreja onde encontrei espaço para cantar e participar dos eventos religiosos até onde as posses me permitiam.

Terminado o curso primário, fiz concurso para obtenção de bolsa de estudo. Dei sorte. Fui agraciada com uma bolsa que me dava direito ao curso médio completo.

Um belo dia numa viagem para trabalhos da igreja; acordei muito cedo e saí do alojamento. Que agradável surpresa! Deparei-me com um imenso campo a minha frente coberto de capim florido com pequenos “lírios” cor-de-rosa. Fugi da gaiola! Corri em disparada campina a fora numa desmedida alegria infantil. Cheguei até ao final do campo onde esbarrei diante de uma cerca que me impedia a corrida. Escutei então ruído de águas em corredeira sobre pedras. Fiquei sabendo depois que era um trecho do Rio São Francisco que beirava o campo. DETESTO “CERCAS!”. Voltei para o acampamento ainda desfrutando a paisagem.

Todavia, doutra feita, lá estava eu e outros “desobedientes” tentando roubar laranja num certo sítio, quando fomos “abordados” por uma vaca parida. Corremos desesperadamente até a porteira; passamos e ficamos protegidos pela cerca. AS CERCAS SÃO NECESSÁRIAS! Amo as cercas...

Terminado o curso médio me tornei professora primária; profissão que me garantiu o sustento por alguns anos. Tentei curso superior. Iniciei geografia, mas precisei parar porque as finanças em casa ficaram precárias e me tornei arrimo de família. Ingressei no serviço público, me reorganizei, prestei novo vestibular e, com crédito educativo, consegui concluir psicologia e fazer algumas especialidades sem prejudicar a participação financeira com a família. Nesse ínterim cortei muitas ligações e responsabilidades com a igreja (reduzi as cercas).

Além do serviço público, carro chefe para meu sustento, ingressei no ensino superior assumindo algumas cadeiras. Pratiquei clínica psicológica de orientação psicanalítica por alguns anos.

A essa altura dos acontecimentos os irmãos já estavam se encaminhando na vida e assumindo suas necessidades. Continuei junto com os meus pais até o falecimento de ambos. Não me casei por causa das cercas.

Atualmente, aposentada do serviço público realizo as viagens a muito sonhadas, amo andar pelas ruas sem lugar determinado para chegar observando o que encontro pelos caminhos enquanto penso em um blog para contar...


Contei minha história toda?

Contei nada!

Acho que só um livro.

2 comentários:

  1. Que lindooooooo texto, garotinha linda! Parabéns!
    Beijos da sua admiradora, Rosângela Alves.

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  2. Parabéns!!! pelo Blog. Vou divulgar nas redes de Whatsapp no face e no Instagram

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